Saturday 13 November 2010

O jogo




Os ossos das pernas a ranger. Meias altas bola na barra chuteira na virilha. Quatro minutos de compensação. Óleo para os joelhos. Uma ferida cheia de pus e é golo. Que grande confusão. Foi moreno o último a tocar na bola? Não lhe vi a cara. Sim foi o último. Desgosto para moreno de altitude indefinida. Grande confusão no final da festa. Moreno nem queria acreditar. Apita o árbitro. Sem surpresas. Pequeno incidente à entrada dos túneis de imediato sanado. Pequeno intervalo. Contamos consigo. Até já.

...

Queres dinheiro?
Parte o mealheiro.
Regue as couves com gasolina sem chumbo 98.
Três pitadas de sal antes do coito.
30 minutos no forno.
Coitado é corno.
Bom apetite.

...


Estamos de volta. À conversa com moreno. Mal jogado. Mal praticado. Pouca vontade manifestada. As estatísticas. Sempre os números no final a medir as coisas. A falta de imaginação numa equipa, num determinado momento, num século. Caricato. A confusão é tremenda. Moreno perdeu o avião, ficou em terra. Não há táxi no mundo que o queira. Onde irá moreno? Desloca-se para altitudes indefinidas. Moreno, estás arruinado. Fim de jogo. Ou em americano,

game-over.




Monday 8 November 2010

Quarto




O nível de arrumação de um quarto é directamente proporcional ao nível de optimismo e autocontrole do ser proprietário do mesmo. Excepção feita aos que o fazem porque tem mesmo de fazer, como os tropas ou as meninas e meninos da mamã. Estes tem quem os controle.




Sunday 7 November 2010

mil 9 e coiso




   Estávamos no terceiro ano de escolaridade. Lembro-me de descer aquelas escadas escorregadias nas batas azuis com os nomes bordados a vermelho, e no fundo das escadas todos os dias às quatro horas e meia da tarde, o pão com marmelada e o cheiro do suor seco. Era o lanche e as corridas dos que ficavam até à enorme tília na outra ponta do colégio. Eram as brincadeiras na areia debaixo da copa verde-amarela, era o riso do gordo José que já calçava o nº 39. O passivo Adelino cujo pai tinha uma loja que fora assaltada e as colecções de folhinhas perfumadas da pequena Catarina - a quem dei uma foto do meu irmão nu dizendo ser minha - a troco de uma hora com um brinquedo que estava na moda: um cone e uma bolinha, presos por um cordão, que se ganhava ao juntar meia dúzia de caricas de refrigerante 7’up. Eram os Tou’s nos bolicaus, os pega-monstros nas batatas, ver quem jogava melhor à bola

e o cheiro da cola.

Eram as cabeças rachadas no intervalo: o rasto de sangue no cimento, desde o local de impacto até à enfermaria. O cheiro a urina nos pneus que por isso foram banidos do leque de brinquedos no recreio.
Era assim mesmo...

era mil 9 e coiso.




Friday 29 October 2010

MAGIC SPELL




Every magic trick consists of 3 acts.


1.the pledge [I will show you something ordinary]

    » magic words «

esterno-vísceras-fígado-pulmões-pâncreas-porco-ácaro-antílope-crustáceo-músculo-pálpebras-púrpura-vaca-unha-carne-aneurisma-vírus-cão-garganta-fémur-ânus-metacarpo-estigma-glândula-seios-sexo-gengiva-bactéria-língua-infecção-gato.

 

2.the turn [I'll try to do something more than ordinary with it]

   » magic dreams «

Por uma estrada estreita, o banana corre. Cospem-lhe. Escarram. Puxam de suas salivas, ouço-as a aquecer nas gargantas cheias de ódio. E cospem à distancia como se lhe endereçassem flechas em chamas, mas ele não pega fogo, só corre. Aí vai o banana a correr contra o vento com a massa óssea a estalar. Tem sangue nos pés descalços no asfalto. O vento sopra ainda mais forte, leva-lhe todos os cabelos. As marés agitam-se dentro do banana. Eu vejo-o transbordar água salgada. Sorri enquanto se afoga em saliva. Que doce o banana. Que sonho vermelho.



3.the prestige [Now you're looking for the secret but you won't find it. Because of course, you're not really looking. You don't really want to know. Because making something disappear isn't enough. You have to bring it back. That's why every magic trick has a third act. The hardest part, the part we call The Prestige]

    » now casting the spell «

Bom dia. O nome que carrego escrito, reescrito e sobrescrito numa folha de papel. Na rua, a face apontada ao chão enquanto nos cruzamos. Um sorriso. Boa tarde. Uma cerveja pousada na mão. Um cruzar de olhos num sítio diferente. Longos segundos silenciosos. Eu sei. Longos sorrisos. Duas questões de resposta óbvia e nem mais uma palavra. Boa noite. Agrada-me. Por isso apanho e conservo todos os fragmentos mudos. 

O significado não está nas coisas mas sim entre elas.

É tudo uma questão de nomes.


Tuesday 26 October 2010

untitled 1




Subi as escadas com vagar e perguntei ao degrau porque opta todos os dias pelo mesmo lugar na estratosfera.



[?] Ep. 3

a 303Km do ponto de Clausura


            Em Nebulosa prosseguiam as alegações e perícias finais em torno do processo de Holy Cat, e este até já tinha, mesmo sem estar ao corrente do que quer que fosse, alguém para o defender frente ao júri. Este tipo de defesa só era permitido a indivíduos com um grau social especial. Na terra, Holy passava ao lado de tudo isto, Nebulosa deixara de existir enquanto realidade concreta na sua mente. Mas por vezes recordava-se e punha-se a pensar e a imaginar Nebulosa. Da mesma forma que em Nebulosa raciocinava sobre mundos longínquos e seres estranhos, secretamente, no seu caixote, quando ainda era o mais respeitado dos gatos Chefes Navegantes.
Assim que viramos costas ao pinguim, o Chefe retirou o seu disfarce humano. O vermelho brilhante ofuscou-me. Holy disse que me habituasse pois daqui em diante não mais usaria tal prótese. Disse que o seu corpo, por si só, estava a responder e a mutar, e que há muito esperava e sabia disto. Holy pedira-me para ler seus apontamentos sobre a terra para que me inteirasse o máximo possível da sua estrutura ético-social, biológica e emocional. Depois de o fazer questionei Holy relativamente à sua aparência, pensei que os humanos se poderiam assustar ao verem um gato de cor vermelha, e ainda para mais um que fala… Holy disse-me: “Aquilo que os humanos vêm só depende deles, do quanto querem ver ou do que querem ver. Quando fecharem os olhos não é um ser vermelho que romperá pelas suas memórias, se assim o permitirem claro. O vermelho é uma ilusão. As palavras são um veículo blindado mas de natureza química instável - sempre em mutação - quando chegam ao ouvido expectante, provavelmente chegam já com outra face. No silêncio, no mais profundo do eu, quando a poeira acalma, não há ouvido nem caminho, são as palavras que vem por vontade própria ter connosco, umas vezes para nos reconfortar da solidão, outras como se nos quisessem matar. Trouxe-te isto de Nebulosa, é um degrau e como tal to ofereço porque te vejo em frente a esse degrau, como se quisesses subir. Porque te sei e porque te trouxe comigo sabendo que sentirias o impulso, preparei-o para ti, pois teus olhos já me contaram a tua história logo no primeiro dia, só tive de a ouvir.”
Recordo suas palavras como uma ave recorda os trajectos migratórios: como se comigo nascessem. Mais tarde descobri que eu nasci através delas. Holy retirou de dentro do seu diário de bordo uma folha solta com uma colecção de palavras ambíguas:
Sonho sempre que haverá algo ou alguém que espera minha chegada a casa. E chego. E no princípio não havia nada. Agora dou de caras com uma amargura que me fica presa à língua, até às entranhas. Estúpidas tripas minhas. Na estrada o sol a morrer no fundo, a cegar-me. Transpiro com o ruído das pedras debaixo dos pés: um crac-craque constante nas sapatilhas e os ossos dos pés por dentro a conversar com a terra. Ainda não descobri onde vou - isso é algo só visível do exterior, como um peixe transparente frente a um espelho – porra não me encontro. Porra procuro desalmadamente. Passa o comboio sem parar, por instantes sirvo-me dessa ideia para entorpecer o espírito: as ridículas tripas de fora e o sangue a jorrar. A alma a abrir o corpo de dentro para fora e os músculos torcidos pela suja passagem. Pensamento lúdico alma mais leve (por isso) mais alta no azul limpo. Azul profundo do oceano. Três minutos para enrolar um cigarro porque faz vento, outros tantos a fumar a meias com ele. Está quase. Com certeza que o futuro se há de mostrar.”
Se algum Júri deitasse mão a isto seria com certeza fatal para Holy, detectava dezenas de infracções ao código de Nebulosa mas meus olhos tinham recolhido algo mais que ainda não identificara. É como se sempre o soubesse e só agora me visse frente a frente com as palavras. Agora a existência era quase palpável. Agora as sensações ganhavam forma. O amor transcendia à sua forma mais concentrada, e na sua essência extrema e densa, aquelas palavras saltaram para a folha através de Holy, sem que fizesse por isso, da mesma forma que agora me entram pelos olhos a dentro. Holy disse-me: “…isso, deixa a tua alma respirar um pouco mais, não a soltes já, está quase.”
Estávamos a chegar perto do oceano, onde as correntes do sul nos deveriam levar onde bem entendessem e onde prosseguiríamos o nosso estudo.


Holy é denso e destilado – a forma concentrada.
Cat cintila como um quasar – um pulsar que te chama de algures.
Holy Cat é uma tenda de sonhos sem tempo de ser - um lugar de reencontro como uma ilha-infância no tempo adulto: um lugar onde pertencemos.
O silêncio. O que somos.
O palco onde a alma pode dançar a seu belo prazer.


Eu no pólo sul sob a forma de Lobo.








relatório de sonhos I

Estava a ver uma prova de ciclismo como se observasse primeiro na televisão e depois entrasse na estrada. De repente dois ciclistas começam a agredirem-se mutuamente enquanto todos pedalam e tentam acalmar um e outro. A situação acalma. Um deles aproveita para pegar no bebedouro e atirar com este na cabeça do outro. O pelotão já não dá muita importância à questão. O outro para se vingar vai até ao carro de apoio e tira uma roda que arremessa contra o outro. Este cai violentamente e parte-se em dois. Ninguém sabe das pernas. Ele grita desalmadamente. Está coberto de sangue e deitado no passeio. Alguém vem ajudar, é um médico que assistia à prova. Eu estou a uns três metros e observo tudo sem fazer nada. Estou em transe. A primeira coisa que o médico faz é observar-lhe a boca e ver-lhe os dentes. Fico boquiaberto com isso. Consigo ver-lhe as coxas agora apesar de se ter partido em dois. Estão negras do deslizar no asfalto. Os gritos param. O ciclista deixa a cabeça cair para o lado e fecha os olhos em silêncio. Ficou em tons de amarelo acastanhado ou um laranja esbatido e escuro, algo parecido com caril. Acordei sobressaltado.

[?] Ep. 2

a 452Km do ponto de clausura

  1. Uma ilusão
Planeta “Terra”, Pólo Sul
Assumimos a forma humana e descemos do vaivém. Inicia-mos a caminhada os 5: eu, o Hans, o Franz, o Amílcar e Holy Cat ®. Começamos por procurar vestígios de actividade não casual e indícios de livre arbítrio, tal como nos era pedido na listagem de procedimentos entregues pelo Chefe. Examinava-mos cautelosamente o solo branco luzidio com as super-lentes. Hans reparou numa impressão de massa sobre a neve. Holy aproximou-se de imediato para observar:
     - “Hmmm… parece-me uma pegada.”
     - “Uma quê?!” – perguntei.
     - “Uma PE-GA-DA. É uma marca de acção sobre uma superfície sólida não compacta ou de nível 2-macro. Reflecte a estadia ou passagem de um ser no espaço, e se por ventura se repetir nesse mesmo, indica uma trajectória, ou seja, uma ilusão.
Ficamos presos ao terreno, estáticos e instáveis, a fitar atentamente Holy e a sua explicação repentina. O seu conhecimento dos manuais ultrapassava-nos. Já os tinha-mos lido todos, fazia parte da nossa formação, mas era extraordinária a maneira como ele tinha toda a informação disponível num determinado momento. Não seria nada que um rudimentar processador terrestre não pudesse fazer recorrendo a uma base de memória, mas em Holy havia algo mais: uma interpretação.
Seguimos o rasto na neve. Eram formas semelhantes a triângulos mas recortadas em três pontos na base, e aos pares. Amílcar tinha o rosto humano pesado. Não dizia uma palavra desde que o Chefe explicara o significado destas formas invulgares. Franz parecia preocupado com ele. Toda esta situação era nova e imprevisível para nós. Não houve nada deixado ao acaso nos nossos ensinamentos, excepto o próprio acaso. Novos rastos de pegadas apareciam a convergir com o que seguíamos e não demorou muito até que fossem milhares. Holy andava agora mais depressa, os intervalos na sua respiração eram cada vez mais curtos. Amílcar piorou: começou a mudar de cor. Franz ao reparar nisto parou de frente para ele e ficaram os dois quietos a olharem um para o outro. Isto motivou a paragem do grupo. Holy parou sem se virar. Estava de costas para nós em silêncio. Franz tremia e Hans ajoelhou-se. Amílcar começou a olhar-nos desconfiadamente. Estava totalmente vermelho e sentia-se frágil. De repente começou a correr de volta ao vaivém. Hans e Franz foram atrás dele, Holy rodou a cabeça e disse: “queres voltar à quarentena para que seja tudo como foi um dia em Nebulosa, ou segues as pegadas?”. Fiquei mudo. Não sabia o que dizer. Holy continuava na mesma posição aguardando a minha resposta. “Mas… Chefe… eu, eu…” – disse, incapaz de formar uma frase coerente. Holy sorriu e rodou a cabeça para a frente iniciando a marcha lentamente.


  1. Bom grado

Não sei porque o fiz. Ou não o quero dizer. Mas foi a opção que tomei. Não foi a opção confortável. Não foi o que me ensinaram. Foi o que fiz e foi pelo que paguei. E paguei de bom grado.


  1. A conversa

Forças Especiais fotografadas em Nebulosa (FEN), equipadas com poderosas metralhadoras de raios “gama+7.2Ghz”


O melhor dos navegantes de nebulosa continuou a sua caminhada como se nada fosse. Eu esforçava-me por acompanhar o seu ritmo acelerado. Ouvi o arranque ruidoso do vaivém ao longe no horizonte. Não sabia o que se passara e Holy não me parecia minimamente interessado em saber. O que tinha por certo é que estávamos sem meio de transporte, num planeta praticamente desconhecido mas com vida inteligente, e provavelmente dentro de pouco tempo teríamos forças especiais de Nebulosa no nosso encalço. O frio e os quilómetros feitos a investigar as pegadas tinham-me deixado numa espécie de sonambulismo. As ordens que me eram endereçadas eram executadas fazendo o menor uso cerebral possível, e todas as sobras do intelecto caíam nas interpretações da experiência e na compreensão das palavras de Holy Cat. Este estava agora tão vermelho que emitia uma luz própria, florescia numa paisagem de candura e solidão gélida, ainda assim tão seguro de si próprio que tinha uma expressão utópica congelada na face cheia de bigodes.
De um momento para o outro as pegadas desapareceram diante os nossos olhos. De milhares de marcas não se vislumbrava nem uma sequer. Holy e eu observava-mos o solo estupefactos quando ouvimos um som vindo de trás de uma rocha:

     - “Hrrrrr!...”
     - “ ?!!!”
     - “Visitantes de outro mundo…” – disse e saiu de trás da rocha, “…voltai para trás de onde os sonhos vos trouxeram por via de pensamentos conscientes ou por via incerta, este é o planeta terra.”
      - “Quem és tu? O que dizes?” – perguntou Holy. 
     - “Nós somos os defensores deste corpo celeste, por isso habitamos esta entrada. O meu nome é Corcódias e sou o sétimo na descendência de uma longa linhagem secular de guardiões.”

E continuou com um longo monólogo agitando uma espécie de barbatanas-asa que tinha em vez de braços. Depois disse-nos que na terra os chamavam de “Pinguíns” e que só se deixavam ver no Hemisfério sul para poderem controlar melhor todas as entradas dando o menos possível nas vistas. Contou-nos que em pequeno um barco se afundara ao longo daquela costa de gelo maciço e que largara um rasto de sangue negro que apanhou muitos peixes e que por isso se viram forçados a voar às escondidas até África para caçarem, correndo aquele que foi o maior risco de sempre na história dos guardiões Pinguíns. Perguntei de quem se escondiam e porquê. O animal olhou-me nos olhos e fez um periodo de silêncio.
     - “Por causa dos homens… são demasiado inseguros e frágeis e por isso tem de pensar que na ordem natural são os primeiros.”
     - “ E porque os protegem vocês?” – perguntou Holy.
     - “Nós protegemo-nos a nós mesmos, o homem decide o seu grau de envolvimento. Quando nascem, é lhes dado tudo, muito mais do que alguma vez um guardião teve. Depois a infância foge-lhes e com ela o seu senso. São como robots coleccionadores. No entanto, já o meu Avô guardião Pluma de Neve dizia que haviam humanos que para não perderem aquela oferta dos céus, a guardavam numa caixinha e a escondiam num lugar seguro… nunca nenhum de nós encontrou tal caixa, mas o mito, tal como todos os verdadeiros sonhos, persiste. “
Os olhos de Holy iluminaram-se ao ouvir aquelas palavras, sorria silenciosa e constantemente, e projectava a sua imagem vermelha na neve. O pinguim fitou-o e pediu-lhe que aguardasse. De baixo de uma asa retirou um pedaço de papel com desenhos e indicações para Holy.
     - “Então tu és o ser de luz própria, a roda que gira pelo seu mesmo movimento, o pêndulo contínuo. Toma isto, esperamos muito tempo por ti.”
     - “Também esperei muito. Agora chegou a hora.” – disse Holy Cat e guardou o papel na sua bolsa enquanto nos preparava-mos para recomeçar o trajecto, fosse para onde fosse.

Estávamos no Pólo Sul, sem direcções, sós num manto branco, e Holy radiava intensamente.


Estivemos numa imensidão gelada, um lago cristalino da memória, e nesses dias a sós, o mundo não era nada e o número que fazíamos cintilava intensamente, como uma estrela, como um quasar, pulsando energia através do espaço,

e através do tempo.


...

Monday 25 October 2010

[?] Ep. 1



Departamento Jurídico de Nebulosa, Central nº 4

Nebulosa, 177 Z/C1 A3 10h 30min
Departamento Jurídico de Nebulosa
Central nº 4



O grupo de técnicos de júri vem por este meio tornar público o processo instaurado ao cidadão de Nebulosa nº 10034DF-3987013/JK25 denominado por “Holy Cat ®”. Possuidor do título de Chefe Navegante Intergaláctico por provas prestadas e avaliadas à luz dos padrões de efectividade para cargos de Nebulosa.

Declara-se inapto para toda e qualquer função social o cidadão acima citado, por tempo indefinido ou até prestar provas médicas ou de qualquer outra tipologia que se entenda necessária, a serem apresentadas perante este júri e carecendo do visto jurídico do mesmo e respectiva aprovação.

O indivíduo em questão ocorre ainda em pena a determinar pelo júri, as causas não serão tornadas públicas de forma a garantir a segurança e viabilidade do processo (manual cap.345/B p.31).

É obrigação, repito: OBRIGAÇÃO de todo e qualquer cidadão maior de idade que goze de protecção jurídica do Departamento central nº4 de Nebulosa, informar este organismo se obtiver qualquer informação relativa a este processo ou ao indivíduo acima citado. A omissão de dados ou eventos relacionados com tal situação está sujeita a acção penal.

Aspecto do indivíduo nº 10034DF-3987013/JK25

Regulamento:
- Uso de força não autorizado
- Recompensa até 50.000.000 Gil
- Data limite: indefinida

- Contactar júri em:
Central 4 Nebulosa 675H nº78
Frequência 234.9901 kHz


Sunday 24 October 2010

vermelho violeta violência ou o amor do tempo passado no tempo futuro

Tic-tac
Tic-tac
Tic-tac
Bolinha saltitante Gato diz miau!
sem lógica permanente
Um degrau
Bolinha
Dois degraus
Tédio... Ansiedade.
E o amor, O que é isso? Esqueci.
Três degraus.
O que sinto não sei dizer Escrever assim por escrever
Não deve ser isso.
Que raios de confusão O homem está doente.
De amor De sangue
quero sangue Vermelho Violeta Violência
O amor o sangue, quatro degraus.
Estou dormente de emoções
Estou perdido no espaço
No tempo com o homem Doente
Como o homem
Permanente.
Cinco degraus e chegamos à cave.
Num dia de nevoeiro Laurinda e seus pupilos cromados saíram à rua em busca de caricas. Missão estonteante. Apanharam 7:
Pupilo número 1 soltou-a do anzol
- The smoking patrol
e Laurinda na rede metálica a mete.
Tinha sabor inoxidável.
Caricas no pocket.
- Surfing on a rocket.

No dia seguinte, assim que anoiteceu, o pupilo 2 teve um abalo de pena. Soltou as caricas na auto-estrada sentido norte-sul. Estas começaram a rodopiar a 33nós o que provocou uma elevação do piso. O alcatrão rasgou-se. O elevador parou, abriu-se a porta e falei com Deus, que me disse: “está frio, junta-te ao cão e morde-me o osso.”

O demo assustou-se e desceu ao rés do chão.
No porão encontrou as 7 caricas que
de uma assentada entregou ao capitão.
A gente encafuados no porão
pupilo 4 a coçar um colhão.
pupilo 4 sempre a coçar
o demo a cantarolar.
Estamos a descer cave abaixo.

Estamos no Inferno
“wellcome” – diz o Demo
soltou o mastro no marujo que se arrependeu dos pupilos e os entregou a deus. Chegou a morte e riu-se, levou-os a todos carregados às costas e cantou-lhes uma cantiga de embalar.

Adormeci.
Fui feliz

o Discovery 24 partiu do inferno para o espaço
acoplado a dois foguetões.
Laurinda ao volante
pupilos na estante
cai o primeiro depois o segundo foguetão
digo ao pupilo 4 que pare de coçar o colhão.
Paramos em Júpiter para lanchar
o pupilo 5 queria ir ver o mar.
Laurinda disse: “Vamos comer”
o meu fígado está a morrer.
Carne de vaca em sangue?
Não, iscas sem cebola.
Para a sobremesa uma ampola.
Sem foguetão nave não arranca
Discovery 24 fica abandonada e manca.

Os pupilos reproduziram-se de uma assentada
fiz sexo com a Laurinda que me fez uma mamada
morremos os dois nesse processo:
Laurinda morreu com um grave abcesso
Eu morri por nada.

Os pupilos habitaram o sítio e chamam-se Jupiterianos
e como tudo flutua por lá, fizeram edifícios insufláveis.
Anteontem lançaram um ataque aos marcianos
e ainda há na terra quem os ache tão afáveis
Depois de amanha vão atacar o planeta terra
lembraram-se das caricas assim de repente.

E o amor, o que é isso? Lembrei-me.

Dentro de uns dias se verá. Eu sempre achei que o nosso tempo foi o tempo passado e o tempo futuro, nunca o tempo presente. Amanha direi o mesmo. As memórias e os sonhos a dançarem juntos.  O amor do tempo passado no tempo futuro. Nunca no presente. As memórias dos sonhos e as memórias nos sonhos.

Aí não entra pupilo nenhum. Não. Aí não entra enfermo algum!